Com
o ritmo atual das pesquisas e testes, prazo para uma vacina eficaz
contra a doença pode ser inferior a estimativa inicial que era
entra 12 e 18 meses
"Assim
que foi verificado o potencial do novo coronavírus de se tornar uma
ameaça mundial, no fim de fevereiro deste ano, a estimativa de
pesquisadores e especialistas da área da saúde, em especial
infectologistas, era de que uma vacina eficaz contra a Covid-19
demoraria entre 12 e 18 meses para ser desenvolvida. Se o ritmo que
está sendo seguido no momento pelas empresas farmacêuticas for
mantido, porém, o prazo para que se chegue à imunização
artificial contra a doença deve ser menor do que o esperado.
Nos
Estados Unidos, as empresas AstraZeneca, Johnson & Johnson e
Moderna, que recebem financiamento do governo, alegam que devem
distribuir os primeiros lotes comerciais de suas vacinas
experimentais no final de 2020 ou no início de 2021. Essas são as
principais companhias do Operation Warp Speed, plano norte-americano
de ter 300 milhões de doses de uma vacina segura e efetiva contra o
coronavírus até janeiro do ano que vem.
A
Johnson & Johnson afirma que o primeiro ensaio clínico de sua
vacina de vetor adenoviral deve começar na segunda quinzena de
julho, dois meses antes da previsão inicial. O estudo contará com
1.045 voluntários saudáveis e será conduzido nos Estados Unidos e
na Bélgica.
É
também em julho que a Moderna planeja iniciar a fase III dos testes
de sua vacina, que utiliza uma molécula chamada RNA mensageiro (mRNA).
A fase III é a última fase de estudo antes da obtenção do
registro sanitário para que seja possível disponibilizar o produto
à população. Aqui, o objetivo é demonstrar a eficácia da
vacina. Vão participar do estudo 30 mil pessoas, sendo que o
objetivo da empresa é produzir 500 milhões ou mais doses por ano.
"A
Food and Drug Administration [a FDA, agência federal dos EUA]
autorizou o prosseguimento dos ensaios clínicos de quatro vacinas
separadas e vimos várias vacinas de diversos desenvolvedores
aparecerem - estou falando de números de dois dígitos. Temos,
portanto, vários tiros ao gol em relação às vacinas. São boas
notícias", afirmou o comissário da FDA, Stephen Hahn, ao
programa de televisão "Good Morning America", na última
quinta-feira (2).
"Nossa
expectativa é de que duas dessas vacinas cheguem ao estágio final
dos ensaios clínicos, que são grandes ensaios clínicos, no fim
deste mês", complementou.
Corrida
pela vacina
Segundo
a Organização Mundial da Saúde (OMS), há, no momento, 18
"candidatas" a vacina em avaliação clínica em todo o
planeta.
Empresas
chinesas também estão se iniciando estudos da fase
III de suas vacinas fora do país. As companhias Sinovac e o Grupo
Nacional Farmacêutico da China (Sinopharm) estão desenvolvendo
vacinas que utilizam o SARS-CoV-2 quimicamente desativado. As farmacêuticas
dizem que os voluntários que participaram dos estudos da fase II
desenvolveram anticorpos neutralizantes ao coronavírus. Os dados
das fases anteriores conduzidas pelas empresas, entretanto, não
foram publicados.
Outra
gigante farmacêutica também anunciou resultados positivos nos
testes que tem realizado com uma vacina experimental contra o Covid-19.
Trata-se da Pfizer, que em parceria com a empresa de biotecnologia
BioNTech planeja produzir 100 milhões de doses até o fim de 2020 e
outras 1,2 bilhão até o final do ano que vem. De acordo com as
companhias, a vacina, quando testada em seres humanos saudáveis,
estimulou respostas imunes. Ao mesmo tempo, porém, foram
registrados efeitos colaterais como febre e distúrbios do sono, mas
nada que tenha levado à hospitalização de voluntários oi que dê
conta de inviabilizar o produto.
Normalmente,
o processo de desenvolvimento de uma vacina eficaz contra um novo vírus
demoraria, no mínimo, de um ano e meio a dois anos, sendo bastante
otimista. Pode-se considerar, portanto, que esses avanços
significativos registrados em apenas três meses efetivos de
pesquisa relacionada ao coronavírus são um marco extraordinário
da indústria farmacêutica.
A
The Antibody Society, organização internacional sem fins
lucrativos de apoio a pesquisas sobre anticorpos, estima, quanto ao
SARS-CoV-2, que deve haver mais de 20 programas de anticorpos em
estudos clínicos até o final do ano. Para a organização, não
vai demorar muito para determinar se esses medicamentos são ou não
eficazes.
Vacina
de Oxford
O
Brasil está na mira dos testes internacionais de potenciais vacinas
contra o coronavírus. A já citada AstraZeneca, grupo farmacêutico
anglo-sueco, está desenvolvendo uma vacina de vetor adenoviral
projetada na Universidade de Oxford. A empresa está recrutando 10
mil pessoas no Reino Unido e 30 mil nos EUA e 5 mil no Brasil para
realizar os estudos da fase III a fim de determinar se a imunização
é eficaz. Caso os resultados sejam positivos, a companhia diz que
pode começar a distribuir a vacina já em setembro no Reino Unido e
no mês seguinte nos Estados Unidos.
Na
última quarta-feira (1), o diretor-executivo de relações
corporativas da AstraZeneca no Brasil, Jorge Mazzei, afirmou em audiência
pública na Câmara dos Deputados que se a vacina desenvolvida pela
Universidade de Oxford se comprovar eficaz em testes preliminares,
sua produção no Brasil deve começar no fim de 2020, pela Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Por
aqui, os testes devem ser realizados por meio de parceria com a
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Metade dos voluntários
vão receber a vacina experimental, enquanto os demais receberão um
ativo comparador. Esses indivíduos serão acompanhados durante um
ano, mas com avaliações preliminares periódicas de eficácia.
Se
a vacina for aprovada e registrada após a conclusão dos estudos,
prevista para junho de 2021, serão produzidas 70 milhões de doses,
ao custo de US$ 161 milhões. Antes disso, planeja-se produzir 15,2
milhões de doses em dezembro e 15,2 milhões de doses em janeiro,
“com risco”, com custo de US$ 127 milhões, segundo a
Fiocruz."

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