Órgão
avalia que desfiles impõem riscos. Secretário diz que 'qualquer
condição que acumule pessoas nas ruas é preocupante'
O
Carnaval de rua foi considerado "impensável" pelo Comitê
Científico de São Paulo. O órgão, que analisa os avanços da
disseminação da Covid-19 no estado, declarou nesta quarta-feira
(5) que tanto os desfiles quanto os blocos de rua são vistos com
cautela em razão do risco de promoverem aglomerações e, assim,
disseminarem o coronavírus.
"O
Carnaval pode ser analisado pelos desfiles das escolas de samba,
situação parecida com a que ocorre nos estádios de futebol, em
que conseguimos ter controle, exigindo que pessoas estejam vacinadas
e com máscara. Agora, no Carnaval de rua não temos como fazer o
controle, a aglomeração é intensa. É impensável manter o
Carnaval nessas condições", disse João Gabbardo, secretário-executivo
do comitê.
"Mesmo
no desfile, as pessoas vão se aglomerar no transporte coletivo, no
metrô, no trem, no ônibus, e isso é sempre um risco. Neste
momento, é um risco muito alto, então tem que ser analisado com
essa preocupação", completou Gabbardo.
Segundo
o médico infectologista Ésper Kallas, observar o curso
da Ômicron na África do Sul pode ajudar o país a
compreender essa nova variante do coronavírus. "Eles
perceberam que houve um aumento vertiginoso e um pico 30 dias depois
do aumento, então teve um ciclo bem mais curto. Como vai ser a
curva de queda, nós não sabemos ainda", disse.
"Mas
cada vez estamos mais próximos do Carnaval, e antecipar o que vai
acontecer com uma onda tão explosiva é muito difícil. Até o fim
do fevereiro, podemos estar numa onda de disseminação bastante
intensa. A recomendação é ser mais cauteloso."
Kallas
explicou ainda que a Ômicron é muito mais transmissível, e não
necessariamente respeita a imunidade prévia. "Pessoas com duas
ou três doses têm um quadro de Covid bem mais leve. O número de
casos é exponencial fora do país, mas a cobertura aqui em São
Paulo é de 96%. Isso tem um impacto, sim. O risco de pegar é muito
alto, mas o comitê vem se posicionando de forma frequente,
inclusive, pela manutenção do uso de máscara, para reduzir a
disseminação da nova variante."
O
secretário de Saúde do estado, Jean Gorinchteyn, disse que
qualquer situação que acumule pessoas nas ruas preocupa as
autoridades de saúde. "Nosso olhar atual é que, em qualquer
condição que permita aglomeração, é natural que as pessoas
acabem não utilizando a máscara de forma adequada e, dessa forma,
haja um risco maior de disseminação."
"Olhando
lá para a frente, pensando em qualquer condição que acumule
pessoas nas ruas, é preocupante. Quando vamos olhar cenários específicos,
cenários controlados, seja com a vacinação, com a testagem, se
isso acontecer, seremos anuentes, caso contrário, não vamos
sugerir que isso possa acontecer", disse.
Aumento
no número de casos
O
secretário de Saúde de São Paulo comentou também o aumento
no número de infecções por H3N2 e coronavírus no estado. "Tivemos
um aumento no número de atendimentos a síndromes respiratórias,
especialmente nos prontos-socorros. Isso se deve à multiplicidade
de vírus respiratórios. Esses quadros denotam que as pessoas
retiraram a máscara de forma muito abrupta, especialmente nos
ambientes de confraternização, favorecendo a transmissão."
Ele
afirmou ainda que a pasta está atenta aos casos de infecção pela
variante Ômicron e toma medidas para evitar problemas no sistema de
saúde. "Desaceleramos todas as desmobilizações de leitos
Covid, incrementamos o acesso ao Tamiflu, para o tratamento de
formas moderadas e graves de gripe, ampliando a testagem, para
definirmos as características e o tempo de isolamento."
Segundo Gorinchteyn, até dezembro foram disponibilizados 1.250
millhões de testes de Covid-19. Nesta terça-feira (4), o secretário
disse que foram disponibilizadas mais 800 mil testagens.
O
coordenador do Comitê Científico de Covid, João Gabbardo, disse
que, em números absolutos, o crescimento de 30% nas internações não
oferece riscos. "Mesmo que tenhamos uma movimentação maior
nas internações, estamos partindo de um patamar que estava muito
baixo", afirmou. "Em números absolutos, não põe em
risco a capacidade de atendimento que a rede de hospitais de São
Paulo pode oferecer à população."
Gabbardo
alertou também para os riscos de aglomeração em postos de saúde.
"Muita gente vai aos postos porque é a única maneira de fazer
o teste, e para isso temos que ter uma solução, porque aumentamos
o risco de transmissão."
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