Dos
30 países mais populosos do mundo, o Brasil está na 9ª colocação
entre os que conseguiram a maior cobertura com duas doses
Um
ano depois de começar a vacinação contra a covid-19, o Brasil se
aproxima do patamar de 70% da população com as duas doses,
enquanto 15% já receberam a dose de reforço e cerca de 75%
receberam ao menos a primeira dose, segundo dados do painel Monitora
Covid-19, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A campanha
coordenada pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) já tinha
atingido 68% dos brasileiros com as duas doses até a última sexta-feira
(14) e dá agora os primeiros passos para proteger crianças de 5 a
11 anos.
A
vacinação contra a doença teve sua primeira dose administrada em 17
de janeiro de 2021, na enfermeira Mônica Calazans, em São
Paulo. A profissional de saúde recebeu a vacina CoronaVac,
produzida no Instituto Butantan em parceria com a empresa chinesa
Sinovac. Desde então, três em cada quatro brasileiros receberam ao
menos a primeira aplicação de um dos quatro imunizantes adquiridos
pelo PNI: AstraZeneca, CoronaVac, Janssen e Pfizer.
Pesquisadores
da Fiocruz e da Sociedade Brasileira de Imunizações ouvidos pela Agência
Brasil indicam que o resultado da vacinação foi uma queda drástica
na mortalidade e nas internações causadas pela pandemia, mesmo
diante de mutações mais transmissíveis do coronavírus, como
a Delta e a Ômicron.
Mudança
epidemiológica
Quando
o Brasil aplicou a primeira vacina contra covid-19, no início do
ano passado, a média móvel de vítimas da doença passava das 900
por dia, e 23 estados tinham mais de 60% dos leitos de pacientes
graves da doença ocupados no Sistema Único de Saúde
(SUS). Com doses limitadas, a campanha começou focando grupos mais
expostos, como os profissionais de saúde, e mais vulneráveis, como
os idosos.
Levou
até junho para que um quarto dos brasileiros recebesse ao
menos a primeira dose, e o país viveu o período mais letal da
pandemia no primeiro semestre do ano passado, quando a variante Gama
(P.1) lotou centros de terapia intensiva e chegou a provocar picos
de mais de 3 mil vítimas por dia. Nos grupos já vacinados, porém,
as mortes começaram a cair conforme os esquemas vacinais eram
completos, e os pesquisadores chegaram a indicar que a pandemia
havia rejuvenescido, já que os idosos imunizados passaram a
representar um percentual menor das vítimas.
A
diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações, Mônica Levi,
reforça que as vacinas reduziram a ocorrência de casos graves e
mortes na pandemia, mesmo que a ascensão de variantes mais
transmissíveis tenha provocado novas ondas de disseminação do
coronavírus. "Não conseguimos ganhar do aparecimento de
variantes, principalmente porque não houve uma vacinação em massa
no mundo inteiro simultaneamente. Então, em lugares em que havia
condições de alta transmissibilidade, surgiram variantes",
afirma ela, que acrescenta: "Mas as vacinas se mostraram
eficazes contra formas graves e mortes mesmo nesse contexto de
variantes. Neste momento, com a Ômicron, a explosão do número de
casos não foi acompanhada nem pelos casos de internação nem pela
mortalidade. E isso se deve à vacinação. As vacinas cumpriram o
papel principal e mais importante: salvar vidas".
Pesquisador
da Fiocruz Bahia, o epidemiologista Maurício Barreto concorda e
avalia que a velocidade de transmissão da Ômicron trará mais um
alerta para quem ainda não tomou a primeira dose ou não concluiu o
esquema vacinal.
"Esse
pico que estamos começando da Ômicron vai crescer nas próximas
semanas e pode atingir número grande de pessoas. Pode haver casos
severos entre os vacinados, porque a efetividade da vacina não é
de 100%, mas será em uma proporção muito maior entre os não
vacinados", prevê o epidemiologista, que vê risco para
os sistemas de saúde com demanda grande por internação de não
vacinados. "Havendo número razoável de não vacinados, isso
pode gerar enorme quantidade de casos severos. A Ômicron está
expondo a fragilidade dos não vacinados".
Barreto
vê como positivo o número de 68% da população com duas doses,
mas acredita que há espaço para aumentar esse percentual, porque o
Brasil tem tradição de ser um país com alto grau de aceitação
das vacinas. Além disso, destaca que há diferença grande
entre os vacinados com a primeira dose (75%) e com a segunda dose
(68%), o que dá margem para avançar entre quem já se dispôs a
receber a primeira aplicação.
"De
modo geral, é positivo [o percentual de vacinados]. Reflete, de um
lado, o desejo da população de ser vacinada, e, do outro, o
desenvolvimento de vacinas com efetividade capaz de proteger
principalmente contra casos severos da doença", afirma ele,
que pondera: "Poderia ser um pouco mais. O Brasil poderia
chegar um pouco além".
Estados
e municípios
O
ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse, na última semana, que
o sucesso do enfrentamento da pandemia depende da colaboração
de estados e municípios, principalmente com relação ao avanço
nas aplicações da segunda dose e da dose de reforço.
Queiroga chamou a atenção para a situação de alguns estados,
principalmente da Região Norte, onde os níveis de aplicação da
vacina estão baixos.
Ele
comentou que assiste-se ao aumento do número de casos, mas
ressaltou que ainda não há pressão sobre os estados.
"Estamos ampliando os testes. Em janeiro, vamos distribuir 28
milhões de testes rápidos". Segundo ele, em fevereiro, devem
ser distribuídos 7,8 milhões de testes.
Vacinação
no mundo
O
percentual de vacinados com a segunda dose no Brasil
posiciona o país à frente da maioria dos vizinhos sul-americanos,
segundo a plataforma Our World in Data, vinculada à Universidade de
Oxford. Apesar disso, Chile (86%), Uruguai (76%), Argentina (73%) e
Equador (72%) conseguiram cobertura maior no continente.
Quando
são analisados os 30 países mais populosos do mundo, o Brasil fica
na nona colocação entre os que conseguiram a maior cobertura com
duas doses, lista que é liderada pela Coreia do Sul (84,5%),
China (84,2%) e Japão (78,9%). Em seguida, o ranking tem
Itália (74,9%), França (74,8%), Alemanha (71,8%), Reino Unido
(70%) e Vietnam (69,7%). Os países onde a população teve
menos acesso às vacinas foram Quênia, Nigéria, Tanzânia, Etiópia
e República Democrática do Congo, onde o percentual não chegou a
10%.
A
América do Sul é o continente com a maior média de vacinação no
cálculo da platafoma Our World in Data, com 65% da população com
as duas doses. A lista indica grandes desigualdades regionais, com
Europa (62%), Asia (58%), Oceania (58%), América do Norte (54%) e
América do Sul acima da média mundial de 50% de vacinados, e a África
com apenas 9,9% da população com duas doses.
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